RABISCOS


[Coluna 1]

ESPIRITISMO

Sifilis, cachaça e espiritismo
− eis ai os tres factores que mais
concorrem para a enchente dos
hospicios. Outros existem, natu-
ralmente.
Existem loucos devidos a ou-
trás causas, è claro; mas, tão
pequeno é o numero destes em
relação ao aumento dos devidos
à siflilis, á cachaça e ao espiritis-
mo , que se torna insignificante!
Estas palavras seriam desti-
tuidas de valor se tivessem sido
ditas por mim, pois nunca fui
medico nem tão pouco psiquia-
tra para dar valor as minhas pa-
lavras em taes assuntos. Mas
não são minhas. São de um
grande sabio brasileiro, citado
constantemente pelos metres a-
lemães e franceses, em cujos idi-
omas esse nosso grande patri-
cio tem diversos trabalhos so-
bre assuntos nunca tratados em
Medicina. É elle o Dr. Pirajá da
Silva.
Depois de uma aula sobre ter-
ponema pallidum, causador da
sífilis, o Mestre esteve falando
sobre os perigos da conhecida
esperoquetose; citou, então, a
loucura, vindo, a propósito, a ci-
tacão dos dois perigosos com-
panheiros da sífilis, no caso: ca-
chaça e espiritismo.
Na verdade, são tres desgra-
cãs.
Quero referir-me á ultima des-
tas tres desgraças, isto, é ao es-
piritismo.
Ha uns quatro anos, mais ou
menos, conheci um rapaz que,
apesar de ser inegavelmente in-
teligente, de um coração muito
bom, tinha este defeito: "era es-
pirita até á matéria." Era uma
creatura incapaz de ofender a
u´a mosca. Para se ter uma Idea
de sua bondade, bou contar uma
pilheria que os colegas faziam
com êle: Diziam que êle, quan-
do encontrava u m percervejo na
cama, (êle era estudante e em
cama de estudante de colégio...)
não matava; tirava-o da cama,
prendia-o entre os dêdos e, de-
pois de levar a mão a uma cer-
ta altura, abria os dedos deixan-
do cair o bichinho. E quando, di-
xem os colegas, quando pergun-
tavam porque não matava, êle
respondia que matava, sim, por-
que caindo o bichinho daquela
altura, certamente quebrava o
pescoço e morria!
Quase toda anedota tem um
fim, um objetivo psicológico. O
fim desta era dar uma idea do


[Coluna 2]

quanto era inofensiva aquela crê-
atura.
O ano passado, aquela creatu-
ra inofensiva, com viste e dois
anos de idade apenas, de uma al-
ma tão boa, de um coração tão
generoso, suicidou-se! Ingério
cianureto de potássio e morreu
antes de ter vivido!
Leitor amigo, não te dou com-
selho que conselho è uma cousa
que sò se deve dar a quem pe-
de. Digo-te, porem, o seguinte:
quem se mete com espiritismo,
se não se acabar como aquele
pobre rapaz, acabar-se-á, fatal-
mente, louco ou, pelo menos, idi-
ota!
Nunca vi um sujeito rico ou
feliz por se ter metido com es-
pritismo; ao contrario, conheço
rapazes que, muito inteligentes,
se tornaram mito idiotas por
se terem metido com tal desgra-
ça!

LIOTA.
Bahia, 1931.