VIVA A ESPERANÇA!


─ Este comentário foi escrito em 17-10-66, para ser publicado antes
da eleição. Aconteceu que o portador que o levou para a oficina de
impressão esqueceu de entregar. EDERVAL NERI era apenas um candi-
dato com “muita probabilidade de ser eleito Prefeito de Mundo Novo”.


Muita podriqueira na vida pública de nossa terra não pode ser denunciada por isto:
são safadezas reais que todos sabem, comentam, mas que ninguem pode provar. Um
prefeito qualquer, (e são muitas cabeças para esta carapuça), furta sem deixar rastro, de
modo muito simples: aplica, por exemplo, $80.000 em um trabalinho qualquer e arranja,
com seus cupinchas, assinaturas para comprovantes de despesas num total de $800 000!
Processinho muito velho, muito manjado e entretanto, apesar de 31 de março de 1964,
em pleno funcionamento!
Verbas federais, estaduais e rendas municipais, dezenas e até centenas de milhões,
são devoradas sem se ver em que! As rodagens com buraqueiras incríveis e mata-burros
para equilibristas do volante, apesar dos milhões de verbas despejados nas prefeituras.
E as contas dos prefeitos certinhas que fazem prazer! As denuncias contra bandalheras
incontestáveis são engavetadas porque alegam, as contas da Prefeitura estão certinhas co-
mo boca de bode! e olhem que ha denuncias que nada teem a ver com as tais contas!
Denuncia-se que Paulo matou Pedro; e respondem que nada pode ser feito contra Paulo
uma vez que Joaquim está vivo! Por que isto acontece? Porque dentro da “ARENA”
ha maiorais protegendo corruptos provenientes da parte podre do famigerado PSD.
Aos homens responsáveis pelos departamentos de estradas de rodagem devem ser
feitos apêlos no sentido de que venha a fiscalização para a aplicação das verbas especí-
ficas! Urge uma medida saneadora! Não é possivel deixar que os papa-verbas con-
tinuem papando verbas impunemente! Prefeitos existem que recebem mais de cinco mi-
lões trimestrais para as rodagens! E só se vendo a buraqueira, e só se vendo os ma-
ta-burros para equilibristas do volante em seus municípios! Ladroeira grossa! De fa-
zer indignação! De fazer raiva! Uma desgraça! A ausencia de fiscalização é um ma-
na para os papa verbas! Por que esta ausência de fiscalização? Por que esta lamen-
tável e danosa omissão? Se me disserem, como me afirma um lider local, que a autono-
mia municipal impede a fiscalização estadual, responderei que tal conceito de autonomia
municipal está errado! O poder estadual DEVE PODER fiscalizar a aplicação de VER-
BAS ESTADUAIS; o poder federal DEVE PODER fiscalizar a aplicação de VERBAS FE-
DERAIS. Se para corrigir tal êrro de conceito fôr preoiso uma medida jurídica especial,
que venha tal media! O que não é admissivel é que se coninui permitindo ladro-
eira em nome do respeito à autonomia municipal! Pra o diabo que carregue tal respeito!
Um amigo pessimista comentando a “industria” das verbas para rodagens, me disse:
“Não adianta denunciar. Vem um cara, se vier, e, chegando no interior, vai beber lindos
vinhos gauchos, geladinhos, com os papa-verbas denunciados; e depois afirma que nada
pode fazer contra o fulano porque as contas estão certinhas, pouco se lhe dando que as
estradas não estejam. E fica o dito por não dito; e os denunciantes ainda ficam taxa-
dos, pelos safadões, de caluniadores. Tem jeito não!”
Tenha ou não tenha jeito, precisamos gritar, escrever, publicar, escandalizar! Se
outra utilidade não houver, servirá, pelo menos, como um desabafo, o que não deixa de
ser uma utilidade: ─ utilidade psicológica. E dela me sirvo com uma pontinha de es-
perança de que um jeito vem ai! Quando vejo o destino deste país nas mãos magistrais
de Castelo Branco; um Costa e Silva eleito para seu sucessor; um Luiz Viana Filho, Go-
vernador da Bahia; um João Peixoto de Almeida na presidência da nossa Associação Ru-
ral; e um EDERVAL NERI com muita probabilidade de ser eleito Prefeito de Mundo
Novo, não tenho razões para alimentar pessimismos! Viva a Esperança!

MUNDO NOVO, 17 DE OUTUBRO DE 1966.

EULALIO MOTTA.

P.S. ─ Leio nos jornais, que os prefeitos vão receber, já, quarenta milhões de cruzeiros!
─ 20 em dezembro e 20 em janeiro! Imagino que a “indústria” dos comprovantes de despesas
a esta hora já deve estar em plena abolição! Cavar comprovantes para tanta “despesa” em tão
urto periodo, não é sopa não!
A folha mede 165 milímetros de largura por 300 milímetros de altura. O papel é de alta gramatura, baixa lisura e bastante ácido, ocasionando o amarelamento e desgaste na borda inferior. O texto foi impresso em prensa de tipos móveis. O layout é simples, mas executado com precisão tipográfica, embora tenha linhas muito longas que não são indicadas para esse tipo de impresso porque dificulta a leitura rápida. Na tentativa de manter o texto simetricamente alinhado, o tipógrafo alongou bastante os espaços entre palavras, deixando lacunas que prejudicaram a harmonia visual do texto. Há uma nota introdutória explicando o atraso da publicação. Foi preservado apenas um exemplar desse panfleto.