PONTO DE VISTA!


Tenho um amigo, muito íntimo, merecedor do máximo da minha estima,
que é arenista radical, intransigente, anti-emedebista total. Se motivos de ordem
pessoal o impedem de votar em candidato da Arena, vota em branco. Com o
MDB, nunca! Acontece que o seu radicalismo arenista não impediu que fosse êle
um dos expurgados da Arena local pelos manda-chuvas da dita. Resultado: vota em
branco na eleição de amanhã, 15 de novembro de 1976. As constantes e fortes ten-
tativas da corrente de arenistas expurgados que apóiam o candidato do MDB, não
conseguiram demove-lo do seu ponto de vista de arenista radical. Aos eleitores que
o procuravam pedindo orientação para votarem, em quem deveriam votar, a resposta
invariável era esta: “vote em quem sua consciência mandar”. É um ponto de vista
respeitável. Respeito-o. Mas não o adoto. Porque tenho tambem o meu ponto de vis-
ta que consiste no seguinte: ─ na esfera estadual ou federal, não darei, em hipótese
nenhuma, o meu voto ao MDB. Mas no âmbito municipal não vejo partidos, não
vejo legendas, vejo pessoas. Não vejo arenistas e emedebistas, vejo amigos e inimigos.
Se ha dois candidatos e um é meu inimigo, voto no que não é meu inimigo, indife-
rente a legendas que nos pequenos municipios não passam de rótulos vazios de sen-
tido próprio, vazios de substância ideológica. Sem, entretanto, faltar com o devi-
do respeito às incontestáveis qualidades positivas do candidato inimigo.
Considero que prefeitos municipais e vereadores de pequenos municipios in-
terioranos não têm influência nenhuma sobre a política da nação. Não alteram
em nada a substância, os propósitos, os objetivos da Política com P maiúsculo, da
Política Nacional.
Política de municipinhos é isto aí, esta baboseira que se viu: de “jacus” e “ca-
racarás”, de “dodes e cobras”, de “jacus” e “panelas”... uma baboseira! E cantigui-
nhas cretinas visando ridicularizar a pessoa do candidato adversário... E senhoras e
velhos que não se respeitam, de dedos na boca, pulando e vaiando nas ruas, como
quaisquer capitães de areia!
Enfim... pontos de vista.

Mundo Novo, 14 de novembro de 1976.
EULÁLIO MOTTA
P.S: - Escrevi o comentário supra, antes da eleição, para evitar que o resultado
dela tivesse influência na expressão dos pontos de vista referidos. Agora, manhã
de 16 de novembro, urnas ainda fechadas, prevendo resultado local da eleição,
favorável à Arena, quero dizer o seguinte: devemos esperar que o Governador,
arenista que é, Prof. Roberto Santos, corresponda a esta vitória da Arena em nosso
município, atendendo às aspirações máximas dos munodnovenses no momento: pri-
meira e antes de tudo, o telefone; segunda: a abaixadora de Paulo Afonso em
Mundo Novo; terceira, como consequência da segunda, normalização definitiva
da televisão em nosso município. E, finalmente: cais do rio Capivari, cujas erro-
soes ameaçam destruição parcial de uma praça e total de uma avenida.
A folha mede 163 milímetros de largura por 240 milímetros de altura. O papel é de baixa gramatura, alta lisura e se encontra amarelado. O texto foi impresso em prensa de tipos móveis. Há um post-scriptum no final do texto, com informações acerca de sua escrita. Não há muitas variações de tipos e tamanhos de fontes, nem espaço especial entre parágrafos e as linhas são longas. Foi preservado apenas um exemplar desse panfleto.