SEGUNDA EDIÇÃO


Da Crônica “Fora do Mapa.” Porque
a primeira saiu com erros de impressão
incorrigíveis: omissões de palavras e
frases, alterando o sentido do conjunto.



Estou informado de que um dos gênios da política local afirmou “que é
preciso botar os Mottas fora do mapa.” Até que enfim essa boa gente se lem-
bra de uma coisa boa para os Mottas! “Fora do mapa” significa, suponho: fora
da ação política local. E isto, por sua vez, significa: fora dos fuxicos, das fofo-
cas, das intrigas, das imundícies, das misérias humanas da politicalha. Estar fora

de tudo isto é estar “fora do mapa.” Pode-se imaginar coisa melhor? A gente
de pés enxutos e limpos, vendo os outros metidos na lama até o gogó! É baca-
nissimo! É bom demais!
Eu dizia ao Arnaldo quando lhe pediam, suplicavam, rogavam, quase de
joelhos, quase corando, que aceitasse o lançamento de sua candidatura a prefei-
to; eu lhe dizia: “se resolver aceitar, pode estar certo de que perdeu o juízo.”
Mas não esperava que fizesse o que fizeram: deram-lhe as costas e o persegui-
ram cruelmente, só faltando lhe jogarem pedras. Tornou-se um alvo para as per-
seguições, os fuxicos dessa mesma gente! “Fora do mapa”, deixará de ser alvo
para as intrigas, as agressividades, os ódios, os rancores dessa boa gente! Poderá
haver coisa melhor?!
Há os que julgam que ser vereador ou perfeito é coisa muito importante.
Podemos afirmar que este tipo de importância não interessa e nunca interessou
aos Mottas. Não pretendemos ser importantes conquistando essas alturas... Ora,
se não queremos nada, absolutamente nada dessas importâncias, não seria gritan-
te burrice fazermos questão de continuarmos “no mapa”?
Na minha opinião pessoal, deixaremos, novamente de pleitear o direito à
sub-legenda. Uma vez que não queremos nada, não pleiteamos nada dessas im-
portâncias, para que continuarmos a tomar parte neste mundo sujo de ódios e
corrupções que outra coisa não são política municipal, eleições municipais? Dei-
xemos essa gente com sua legenda, com suas importâncias, com sua possibilidade
de lançar candidato único, e assim, poder se gabar de que conseguiu “ganhar em
todas as urnas, exceto uma que deu empate com o voto em branco”. Se eu fos-
se responsável por lançamento de candidatura única, teria vergonha de, depois,
gabar que “ganhamos em todas as urnas, exceto uma que deu empate com o vo-
to em branco!”
A excelente revista “VISÃO”, nº. de 20 de novembro de 1972, em comen-
tário oportuno e objetivo, afirma: “a Prefeitura ou uma cadeira de vereador ─
cada vez mais vale cada vez menos”. Nós os Mottas, estariamos passando ates-
tado de burrice se fizessemos questão de permanecer no campo sujo da politi-
quice municipal, em disputa de cargos que “cada vez mais valem cada vez me-
nos”. Muito oportuno, também, lembrar, aqui, a candente expressão, cada vez
mais atualizada, do Prof. Hélio Rocha: “cada eleição que passa deixa mais bai-
xo o nível moral e intelectual das câmaras.”
E acontece que nós, os Mottas, não temos condições materiais nem morais
para gastarmos dezenas de milhares de cruzeiros em conquista de votos. (A proi-
bição legal do comércio de votos é utópica: porque só muito excepcionalmente
acontece a burrice de um comprador ou vendedor de votos assinar qualquer
coisa que, caindo em mãos de adversários, se torne comprovante do crime.) E,
assim, com esta incapacidade material e moral para tal comércio, nada mais ba-
cana do que ficarmos “fora do mapa.” Até que enfim, repito, essa boa gente se
lembrou de uma coisa boníssima para os Mottas!
Uma das condições estabelecidas para Arnaldo aceitar a cruz, foi esta: que
o seu sucessor fosse Peixoto. E eis que o espírito de domônio das intrigas de
aldeia o separou de Arnaldo. Não importa. As qualidades pessoais que o fizeram
merecedor das confianças e preferência de Arnaldo, continuam inalteradas, não
deixaram de existir. O que deixou de existir foi o equívoco dos Mottas quan-
do o julgavam amigo. Ele, afinal, não tem obrigação de ser amigo de quem o
julgava como tal. Também não importa. O que importa é que os Mottas fi-
quem, gostosamente, definitivamente, “fora do mapa.” E que Peixoto faça todos
os benefícios que Arnaldo quis fazer e seis vereadores, numa câmara de onze,
não deixaram. E que saiba tirar o máximo proveito da presença no Governo,
do Dr. Antônio Carlos Magalhães que se tem revelado grande amigo do nosso
município.
Amigos: não vamos esperar que vocês nos botem “fora do mapa”. Não
lhes daremos este trabalho. Espontaneamente nos colocamos “fora do mapa” e
agradecemos a vocês a lembrança. Pela tranqüilidade, pela paz, pela sombra e a-
gua fresca, por todo o bem que os Mottas, em virtude de ficarem “fora do ma-
pa” passarão a usufruir, muito obrigado!
“Deo gratias!”

Mundo Novo, 5 de dezembro de 1972
EULÁLIO MOTTA
A folha mede 160 milímetros de largura por 325 milímetros de altura. O papel é de gramatura e lisura medianas. Trata-se de um papel jornal de tipo reciclado já escurecido. O texto foi impresso em prensa de tipos móveis. O layout e simples, mas simetricamente bem estruturado. Há uma nota introdutória contextualizando a publicação do texto e os motivos de sua segunda edição. Foi preservado apenas um exemplar desse panfleto.