NO DECIMO ANIVERSÁRIO


Fevereiro, 974. Um avião baixou no campo de pouso de Mundo No-
vo. Saltaram seis passageiros e ficaram esperando que algum veículo passas-
se para a cidade, afim de mandar recado pedindo um carro para transpor-
tá-los. Depois de horas de espera, apelaram para o “bonde canela”, ruman-
do para o Cobé, (sete quilometros) onde tentariam encontrar um trans-
porte. Não sei se encontraram ou se continuaram “na palêta” até a cidade,
completando a quilometragem: 12 quilometros. Dias depois baixou um avião
vindo de Goiana, trazendo alguem que vinha ao encontro do pai que estava
passando mal. E naquêle campo de pouso gastou mais tempo do que o que
foi gasto de Goiana a Mundo Novo! E o transporte não apareceu!
Comentei o fato com o ex-prefeito, lamentando a ausência de um
telefone ligando aquêle campo à cidade. E êle, então, me contou esta mons-
truosidade: que na sua gestão conseguiu com o Departamento de Aviação da
Bahia a doação de um abrigo que seria construido no Campo de Pouso,
não apenas com telefone, mas, também, com sanitário completo: depósito
de agua, banheiro, latrina com descarga e pia. Construção orçada em Cr$-
14.000,00, totalmente por conta daquêle Departamento, com uma condição
apenas: a aprovação da Câmara de Vereadores, uma vez que o campo, ao
ser inaugurado foi entregue ao municipio. O Departamento entrava com tudo.
O Municipio entrava apenas com a aprovação da Câmara de Vereadores. Pois
bem: o incrível, o fantástico, o horrível aconteceu ─ seis vereadores de uma
câmara de onze impossibilitaram a aprovação requerida! Se não dependesse
da câmara e o prefeito tivesse construido, talvez os fios fossem arrancados
depois, para que o telefone não funcionasse. Porque foi assim que aconte-
céu com o matadouro que o ex-prefeito deixara pronto, faltando apenas re-
toques e inauguração. As instalações para água e luz foram arrancadas para
que o matadouro não funcione. E os abatedores de Mundo Novo continu-
am sem usufruir os beneficios de um matadouro que custou Cr$ 73.000.00 e
frações! O abrigo do campo de pouso teria o esmo destino! Infeliz Mundo
Novo!
Não é de admirar que o décimo aniversário da grande Revolução Re-
dentora do Brasil tenha passado sem nenhuma comemoração nesta cidade!
Acontecimento extraordinário, o maior, o mais belo, o mais fecundo de
nossa História, não pode ser compreendido, não pode ser sentido, não pode
fazer vibrar a quem coloca mesquinhos rancores pessoais acima de tudo.
Nada escrevi desta vez, comentando mais um aniversário da Grande
Revolução. Porque quanod vejo os municípios entregues à mesma politica-
gem sórdida dos anos anteriores à Revolução, fico sem graça, fico triste,
fico sem esperança de que estas misérias municipais acabem sendo focalizadas
pela Revolução, para o seu extermínio definitivo!
Dez anos de Revolução! Da revolução dos meus sonhos! A Revolução
que invoquei em 1962, quando num artigo que publiquei comentando su-
jeiras do politiquismo municipal, escrevi: “só nos resta esperar... Esperar
a Revolução!” Que alegria imensa quando a vi chegar dois anos depois
que a invoquei!
Lamentavelmente, o que tenho a expressar neste ano do décimo ani-
versário festejado em todo o Brasil, menos aqui em nosso Mundo Novo,
é este lamento.
Resta-me esta doce consolação: a certeza de que, com Errnesto Geisel
na presidência e Armando Falcao no Ministério da Justiça, o AI-5 continua-
rá irremovível, a Revolução continuará inabalávvel! Para tristeza de liberaloi-
des e vermelhoides saudosistas que andam aberrando por “abertura demo-
crática” numa evidente demonstração de que “os cães querem voltar ao vô-
mito”, “os porcos querem voltar à lama”.
Mundo Novo 2 de abril de 1974.

EULÁLIO MOTA

P.S. ─ É bom esclarecer “a quem interessar possa” que: ─ voltando à ação
de “escriba da roça”, não tenho nenhuma intenção de me meter na
política local. Porque a mim e aos meus não interessam honrrarias
de Sucupira.
A folha mede 165 milímetros de largura por 300 milímetros de altura. O papel é de baixa gramatura, alta lisura e pouca opacidade devido à cor mais escurecida do papel. O texto foi impresso em prensa de tipos móveis. O layout e simples, sem variação de tipos e tamanhos de fontes, não há espaço especial entre parágrafos, mas simetricamente o texto está bem estruturado. Foi utilizado um símbolo especial nas linhas 17 e 29. Há uma nota post-scriptum com esclarecimentos. Foram preservados quinze exemplares desse panfleto.