QUINTO ANIVERSÁRIO


Este 31 de março de 1969, quinto aniversário da Revolução Brasileira, foi dia de festa nesta
cidade de Mundo Novo. Comércio fechado, com manhã de sol claro em céu azul e os tambores da
mocidade do Ginásio Mundo Novo enchendo de sons marciais e alegrias juvenis as ruas da cidade.
Hasteamento da Bandeira do Ginásio, com todos os presentes cantando o Hino Nacional. A
parada, a seguir, da juventude Ginasiana local. E, logo após, a sessão cívica no vasto auditório
Oliveira Brito.
Um dos oradores da solenidade fez, entre outros, o seguinte comentário:
“Festeja-se, neste dia, em todo o território nacional, o 5º aniversário da Revolução. E eu per-
gunto: ─ se não tivesse havido um outro 5º, o Ato Institucional n. 5, estaria havido tanta festa neste
5º aniversário? Não. As raposas de todos os quilates, corruptos e subversivos, estavam nas ru-
as, nas escolas, no parlamento, nas assembleias, na imprensa, alardeando arrogâncias e prestígio, sau-
dando sem temores nem escrúpulos, a volta daquêle tenebroso 13 de março que motivou o luminoso
31 que é um 13 pelo avêsso! E que agora festejamos, graças a outro 13 luminoso: o 13 de de-
zembro de 968, que nos deu o providencial Ato Institucional n. 5, sem o qual não estariamos aqui
festejando o 5º aniversário da Revolução.
Pergunto, entretanto, com amargura e profunda tristeza: nós, mundonovenses, temos motivos lo-
cais para festejarmos a Revolução? Não. Depois de cinco anos de existência de governo da Re-
volução, as corrupções e os corruptos locais continuam incólumes! Incólumes apesar de denuncias
e publicidade das podridões com provas abundantes, esmagadoras, insofismáveis!
Depois de cinco anos de poder revolucionário, vemos os edificios escolares nas vilas e povoa-
dos do municipio caindo aos pedaços, em ruinas, com centenas de crianças crescendo na escuridão
do analfabetismo! Depois de cinco anos de regime revolucionário, continuamos sem água encana-
da, sem energia e sem asfalto, com a tão falada “estrada do feijão” virando piada! Piada que de
vez em quando ocupa algum pequeno espaço de coluna de jornais provocando o riso amarelo do de-
sencanto na face dos desencantados.
Sim: não temos motivos locais para festejarmos a Revolução. Com os motivos negativos re-
feridos, nossa participação em tais festas teria um sabor repugnante de bajulação do poder ou dos
poderosos. Mas acontece que existem motivos muito mais altos que justificam, plenamente, a nossa
participação nas festas de regosijo nacional, neste dia. Tomemos parte, portanto, nestas festas, em- borá o eco de nossos aplausos se misture com o murmúrio de nossas decepções. Porque aqueles
motivos o exigem e o justificam: a certeza, por exemplo, de que: ─ se não tivesse havido a Revo-
lução de 31 de março de 64, reabilitada vigorosamente, pelo 13 de dezembro de 68, o monstro ver-
melho transformaria o Brasil numa Cuba de proporções continentais! E o Brasil cubanizado arras-
taria todo o continente sul-americano para as garras do monstro. E, então, cairia, como consequên-
cia decorrente, a África, a Europa, o mundo. Concluimos, assim, que a Revolução Brasileira
não salvou apenas o Brasil, salvou o mundo!
E concluiu, patético, o orador: ─
“Moças e moços: Meninos e meninas aqui presentes como uma pequena representação da
juventude nacional: quero afirmar a vocês, o seguinte:
─ Se não tivesse havido a Revolução Brasileira de 31 de março de 1964, os futuros filhos de
vocês não teriam a glória de nascerem livres.
Quero, pois, apesar daqueles motivos negativos referidos, saudar o porvir, saudando os futuros
filhos de vocês com este grito: ─ VIVA A REVOLUÇÃO!

MUNDO NOVO, 31 de março de 1969.

EULÁLIO MOTTA.
A folha mede 215 milímetros de largura por 230 milímetros de altura. O papel é de baixa gramatura, alta lisura e encontra-se amarelado. O texto foi impresso em prensa de tipos móveis. O layout é simples com poucas variações de tamanhos e tipos de letras, as linhas são longas e não há espaço especial entre parágrafos. Na tentativa de manter o texto simetricamente alinhado, o tipógrafo alongou bastante os espaços entre palavras, deixando lacunas que prejudicaram a harmonia visual do texto. O tipógrafo também utilizou aspas invertidas em alguns momentos (linhas 9 e 39). Há emendas autógrafas nas linhas 24 e 39. Foram preservados três exemplares desse panfleto.